quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Dom Jaime toma posse em fevereiro

Os católicos da Arquidiocese de Natal tem um novo pastor. Ontem, foi confirmada a escolha, feita pelo Papa Bento XVI, de Dom Jaime Vieira Rocha para assumir o cargo de Arcebispo Metropolitano de Natal, ocupado, até ontem, por Dom Matias Patrício de Macêdo. A cerimônia de posse, no entanto, acontece somente no dia 26 de fevereiro do próximo ano. Nos próximos dois meses, Dom Jaime pretende conhecer seu novo rebanho e elaborar um plano com metas para a nova missão. O atual bispo de Campina Grande-PB foi comunicado da escolha de Sua Santidade no último dia 6. "No dia seguinte, respondi ao comunicado e decidimos que a melhor data para comunicação ao povo de Deus seria ontem", afirmou o bispo que pretende, na Arquidiocese de Natal, fortalecer o braço social da Igreja.
DivulgaçãoDom Jaime, atual bispo de Campina Grande-PB, foi comunicado de sua vinda para a Arquidiocese de Natal, no último dia 6
Dom Jaime, atual bispo de Campina Grande-PB, foi comunicado de sua vinda para a Arquidiocese de Natal, no último dia 6

Sobre  a escolha de seu nome, Dom Jaime contou que foi um processo normal e disse que ficou surpreso  com o anúncio. "Devemos ver tudo isso como algo dentro de um processo normal da sucessão apostólica da Igreja. O arcebispo Dom Matias, meu irmão a quem devoto amizade e apresso, de acordo com o Direito Canônico, atingiu a idade para pedir a renúncia. O Papa, dentro de uma lista tríplice, escolhe aquele bispo que, ao seu modo de ver, é o candidato para aquele local. Foi o que aconteceu. Estou me sentido muito feliz", afirmou.

Apesar do anúncio da escolha ter sido feita no dia 6 de dezembro, o bispo contou que ainda não pensou como vai conduzir os trabalhos na nova missão designada pela Igreja. "Venho a notícia e foi uma surpresa e nos causa a oportunidade de uma profunda experiência na fé. Confesso que não elaborei algum projeto justamente para evitar que eu ficasse criando uma expectativa de algo que não tinha certeza nem dependia de mim. A partir de agora, vamos ver o que fazer".

O novo Arcebispo Arquidiocesano afirmou ainda que pretende estreitar a relação com membros do Poder Público. "Quero somar esforços que produzam vida, dignidade, esperança e harmonia. Vou estar sensível não só às necessidades da igreja, mas do Estado, das realidades urbanas. Não somos pastores de almas desencarnadas", esclareceu.

Gestoras comentam

A governadora do RN, Rosalba Ciarlini, e a prefeita de Natal, Micarla de Sousa, emitiram notas sobre a nomeação de Dom Jaime. Rosalba ligou para o bispo e disse que deseja fazer parcerias com a Igreja Católica. "Fiquei muito feliz em saber da escolha do senhor. Agora que está voltando à sua terra, quero caminhar ao seu lado. Vamos fazer boas parcerias", falou.

Já para Micarla de Sousa, "a Arquidiocese de Natal ganha ao ter como novo representante um homem íntegro que vive a palavra de Deus e que certamente arrebanhará mais fiéis para a Igreja Católica em Natal. Faço votos que Dom Jaime conduza com sabedoria os novos rumos da igreja", declarou. A prefeita também comentou a saída de Dom Matias. "Dom Matias é um pastor admirável e sempre foi incansável na propagação da fé em Deus e dos atos de amor e solidariedade ao próximo. O trabalho realizado por ele na Arquidiocese de Natal certamente fincou raízes e será perpetuado por Dom Jaime", disse.

Expectativa é grande para a chegada do novo arcebispo

A notícia da nomeação de Dom Jaime como novo arcebispo de Natal foi comemorada por fiéis e padres da Igreja Católica. A posse do cargo acontece no dia 26 de fevereiro do próximo ano, na Catedral Metropolitana, em solenidade que deve começar às 9h. No dia 29 de junho de 2012, dia de São Pedro, Dom Jaime vai à Roma participar de uma cerimônia presidida pelo Papa Bento XVI. Lá, irá receber o "pálio" - espécie de colarinho branco com dois apêndices - que é entregue somente aos arcebispos. Dom Jaime chega a Natal na próxima semana para realizar exames médicos. "Os médicos dele são daqui. Essa viagem já estava programada e coincidiu com o anúncio", disse o professor de francês no Seminário de São Pedro e primo de Dom Jaime, Manoel Neli Rocha Vieira.

O padre José Freitas Campos, pároco da Paróquia de São Sebastião, no Alecrim, também está ansioso por rever Dom Jaime. O religioso foi um dos quatro padres que se ordenaram no dia 01 de fevereiro de 1975. "Nossa turma começou grande. Eram 84 seminaristas, mas somente quatro receberam o sacramento da Ordem, entre eles, eu e Dom Jaime", contou. "Recebi essa notícia com muita alegria. Somos grandes amigos há mais de 37 anos, sempre nos comunicamos", contou.

O diácono Francisco Teixeira, coordenador do Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários (Seapac), trabalhou com Dom Jaime na época em que ele era bispo de Caicó. Francisco acredita que o novo arcebispo tem compromisso com a mudança social. "Trabalhei com ele e sei do quanto se empenha no setor social. Dom Jaime tem a percepção que a Igreja é um instrumento de modificação social. Estamos muito felizes com essa notícia", ponderou.

O atual pároco da Paróquia de Santa Terezinha, em Tangará, Pe. João Batista, foi aluno de Dom Jaime no Seminário de São Pedro e acredita que o arcebispo vai contribuir com o trabalho social da Igreja. "Ele é um homem de visão, conhece as engrenagens sociais. A Arquidiocese de Natal só tem a ganhar com essa nomeação", contou.

Dom Matias Patrício ficará no Estado

"A vida continua. A Arquidiocese continua com seus trabalhos e não está sem cabeça". Assim respondeu o agora Administrador Apostólico da Arquidiocese de Natal, Dom Matias Patrício de Macêdo, quando questionado sobre o futuro. O bispo segue sendo o pastor da Igreja Católica de 88 municípios, porém, sem a competência e responsabilidade de tomar algumas decisões. "Continuo com as mesmas funções, mas algumas tarefas fogem da minha responsabilidade", explicou.
Aldair Dantas
Dom Matias Patrício continuará no Rio Grande do Norte
Dom Matias Patrício continuará no Rio Grande do Norte

Dom Matias deixa o cargo após o Papa Bento XVI aceitar a renúncia dele, em conformidade com o Código de Direito Canônico, que recomenda que todo bispo que complete 75 anos de idade deve apresentar renúncia ao cargo. Dom Matias completou 75 anos em 14 de abril de 2011, mês em que apresentou o pedido de renúncia. Após oito anos à frente da Arquidiocese, o arcebispo afirmou que deixa o cargo com o sentimento de dever cumprido. "Sou um homem feliz. Fiz o que poderia ter feito. Visitei todos os municípios e fui às comunidades rurais onde antes nenhum bispo tinha ido", relatou.

Ao fazer uma avaliação de sua gestão, Dom Matias contou que ordenou 55 padres, um bispo, 45 diáconos permanentes e criou 17 paróquias. "E o que mais marcou: criamos 102 novas igrejas durante os três anos de preparação para o centenário da Arquidiocese de Natal", elencou.

Dom Jaime é, segundo Dom Matias, "um velho amigo de longas datas". Foi Dom Jaime, inclusive, que substituiu Dom Matias quando esse saiu de Campina Grande e venho para Natal. "Agora a história se repete. Saí de Campina Grande para vir para Natal e ele ficou no meu lugar. Hoje, sou eu quem deixo Natal e ele assume novamente meu cargo", explicou. Para o sucessor, deixou um aviso: "A Igreja de Natal tem um plano de pastoral que precisa ser concluído. Dom Jaime deve acolher esse projeto. Desejo votos de boas vindas acompanhados das orações desta Igreja para que nela desenvolva um fecundo pastoreio", disse.

Bate-papo

Dom Jaime Vieira » novo Arcebispo Metropolitano

Como a Igreja pode ajudar a mudar os indicadores sociais do país?

A Igreja, por si só, tem muitas condições. A Igreja é perita em humanidade. Ela é chamada a ser mãe e mestra do ponto de vista de humanização. Eu vejo que, atualmente, vivemos num tempo de pluralismo religioso muito forte e uma realidade muito voltada para a globalização e o consumismo. É uma sociedade de mercado que investe apenas no que é novo e dá lucro imediatamente. Seria muito importante acentuarmos e nivelarmos a presença pública da Igreja. A Igreja presente nas diversas frentes de combate à pobreza e analfabetismo. É preciso que a Igreja some esforços com o Poder Público, com gestores, sendo uma voz profética e tendo um papel que lhe é reservado da isenção político-partidária. Há muito atraso no Nordeste por causa de uma mentalidade retrógrada: um adversário não apóia uma ideia de outro político por questões partidárias.

Como o senhor avalia a participação direta de padres nas administrações públicas?

Falo do que eu vivi e constatei. Isso é um assunto polêmico e complexo. A política é arte nobrelíssima para o bem comum. Me lembro, quando pároco em Macau, via na igreja uma cruz bem antiga com uma placa dizendo: "Esta é a cruz da Ilha de  Manoel Gonçalves trazida para esta igreja pelo Monsenhor Paulo Herôncio de Melo, pároco e prefeito de Macau". Naquela época, era muito comum padres na política. Tivemos Monsenhor Walfredo Gurgel, padre Cortez, Monsenhor Arruda Câmara, entre outros que ocupavam espaços muito importantes na defesa da moralidade e direitos humanos. Mas tem a posição da Igreja que exige ao ministério ordenado para o cuidado e zelo para não se envolver com a política partidária. É verdade que a política partidária, por si só, divide, contraria interesses, causa tristeza na comunidade e o padre é sinal de comunhão. No entanto, padres que passaram pela política, em tempos passados, deixaram grandes exemplos de seriedade e dignidade. Quem não se lembra de Monsenhor Walfredo Gurgel. Precisamos fazer essas ressalvas, mas, hoje, os papéis na sociedade são específicos. Cada um dá conta do que é a sua responsabilidade. Não vejo necessidade de um padre assumir cargos ou funções no Poder Executivo. No Legislativo, até que se compreende porque é onde deveriam ter mais pessoas com formação ética e comprometidas com a justiça e dignidade humana.

Como o senhor se posiciona a respeito da homofobia?

São questões polêmicas e são problemas que sempre existiram. Tomam visibilidade maior, hoje, por causa dos novos instrumentos de comunicação. Tudo fica potencializado: quem não sabia, fica sabendo, quem tinha uma tendência, agora vai se sentindo estimulado para seguir aquele caminho, aquele desvio. Por outro lado, podemos, como cristãos, percebermos, desde o princípio, que Deus criou homem e mulher e o casamento é para o homem e mulher. É a lei natural. Se alguém faz uma escolha pessoal, talvez até sem culpa, de viver com uma pessoa do mesmo sexo, é um problema muito particular. Não devemos condenar. Devemos apontar para o que é concebível e está dentro da ordem perfeita da natureza, mesmo com as suas imperfeições.

Quem é Dom Jaime?

Dom Jaime Vieira Rocha é natural da Cidade de Tangará, onde nasceu em 30 de março de 1947. Fez os estudos de Filosofia e Teologia na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo-SP. É formado em Ciências Sociais, pela UFRN, e IBRADES, no Rio de Janeiro-RJ. Foi ordenado padre no dia 01 de fevereiro de 1975, em Natal. Foi nomeado Bispo da Diocese de Caicó, em 29 de novembro de 1995. A ordenação episcopal aconteceu no dia 06 de janeiro de 1996, na Basílica de São Pedro, em Roma, na Itália, pelo então Papa João Paulo II. Escolheu como lema: "Scio Cui Crediti" (Sei em quem acreditei). Dom Jaime governou a Diocese de Caicó por nove anos - de 1996 a 2005. Em 2005 foi transferido para a Diocese de Campina Grande-PB, onde permaneceu até agora. No período de 1997 a 2003, Dom Jaime foi o Bispo Referencial da Comissão Episcopal Regional para a Vida e a Família.  Atualmente é o Bispo Referencial da Comissão Episcopal Regional para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, do Regional Nordeste 2; e membro da Comissão Episcopal para a Amazônia, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)


Fonte: Tribuna do Norte
Roberto Lucena - repórter

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